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terça-feira, 3 de setembro de 2013

O porque das coisas (PARTE II)



POR QUE?

Se não há não há nada escondido que não venha a ser revelado, por que há tantas pessoas na ignorância espiritual? Onde está a revelação? O que está escondido? Onde está escondido? Será revelado para quem? Por quem? Em que circunstância? E como será revelado? O que há de tão importante para ser revelado? Claro que a afirmação bíblica existe: “não há nada oculto que não venha a ser revelado”, mas para responder as perguntas que antecedem essas linhas caro leitor, é preciso mais! Somente aceitar essa afirmação não é o bastante. (????)
    Alguém responderá, “tudo será revelado!”, tudo o quê? Algumas palavras são tão genéricas que apontam para lugar nenhum. E uma delas é tudo! Ou nada!
    
    Os nossos porquês (ou melhor, as nossas perguntas) precisam ser respondidos! As respostas, contudo, homem algum poderá responder. Todas elas estão na Palavra de Deus, todas as respostas estão na palavra viva do Senhor, mas muitas delas estão além do que os olhos podem ver. As respostas "não estão" no texto, mas estão escritas por detrás dele, não está naquilo que se podem ver, mas naquilo que não se pode ver.

    Prendendo-nos então a outro ponto muito importante, e que muitos se esquecem. A Biblia não precisa ser interpretada. Sim! É isso mesmo! "A Palavra de Deus é viva e eficaz" (Hb 12:4). "Ora... Como assim viva?". Porque ela (a Palavra) é viva? O que significa ser viva? e mais ainda, ser eficaz? Que praticidade tem uma palavra viva para nossas vidas? E a melhor pergunta de todas: "O que o texto diz além daquilo que está escrito?"
Caros amigos, que me desculpem os teólogos, mas dizer que a Palavra é viva porque está escrito que ela é viva não é desvendar nada!... Qualquer um pode e consegue “desvendar” isso, basta saber ler! Seria como dizer: "Olha irmão, a Bíblia diz: o Senhor é o meu pastor e nada me faltará... nada nos faltará irmão!" ..... Então... é só isso? Será que isso é uma Palavra viva? Não precisa de revelação para saber disso. Isso está escrito! Ler e reproduzir aquilo que está escrito, como sendo uma revelação de Deus pode até te tocar o coração (... e toca), transformar (...e transforma), mas apenas lê-la, jamais desvendará o que está por trás das palavras.

    A Biblia é a inerrante Palavra de Deus e não precisa ser interpretada, ela por si só já é a própria interpretação. Muitos pregadores, professores de escola dominical, evangelistas, missionários e o próprio povo de Deus, buscam no texto bíblico uma suposta resposta para o que eles mesmos já intentam falar, ou aquilo que esperam ouvir. Isso não é revelação! Querer falar sobre, por exemplo, o uso ou não de brincos, e procurar na Bíblia algo que endosse a afirmação, não é ter revelação! É arrumar pretexto... um jeito de a Bíblia se adequar a ele, e não o contrário! 

    Como dizíamos a Bíblia não se explica! O que Deus precisa falar a seu povo como regra, já está lá. Não quero dizer, com isso, que Deus não use um servo Seu para dirigir uma palavra para esse ou aquele irmão, por meio de uma revelação, mas isso não é regra, é exceção! Já nos acostumamos ao neopentecostalismo contemporâneo, que revela isso e revela aquilo. É chave de ouro, é caneta de ouro, cadeira de ouro, púlpito de ouro, tudo de ouro! É muito ouro! Peraí... e o que a Bíblia diz? ...Mais uma vez, não quero dizer que Deus não possa usar alguém para fazer isso! Porque Ele usa e faz! Revela sim! Contudo, de 10 em 10 minutos? Espera aí... Sejamos sensatos. Não quero me prender a esse assunto, que quero discorrer com mais profundidade depois. Então voltemos ao que diz a Bíblia...

    Uma das “máximas” da hermenêutica bíblica é que a Bíblia explica a própria Bíblia (conceito particular). Então, tendo em vista essa máxima, não há necessidade da Palavra de Deus se adequar ao pregador e sim o contrário. O soberano nessa relação é o próprio Deus (através da Sua Palavra) e não o pregador, não o leitor. Porém, entender o que Deus quer dizer, não apenas com aquilo que está escrito, mas também com aquilo que “não está escrito” nem sempre é uma tarefa das mais fáceis, porém, a pergunta “por quê” é sempre pertinente. Por quê isso está escrito aqui?

    Aprendamos uma coisa. Se está lá! É importante! Ponto! A Bíblia é um emaranhado de caminhos que se interligam uns aos outros de forma tão perfeita e exata, que todos os fatos e ensinamentos descritos estão em concordância uns com os outros em uma teia perfeita.

    Deixarei um exemplo, muito interessante onde nossa pergunta (o tão falado: por quê) nos levará a um caminho diferente do daquele que aparentemente está explícito. Uma amostra de como duas palavras dentro da Bíblia tem um significado tão abrangente e vivo, no sentido intrínseco da palavra. De novo deixo claro: Não é que, aquilo que está explícito no texto sagrado seja menos importante do que aquilo que “não está escrito”. Pois não o é. Entretanto, para mim (uma opinião particular) a beleza da Bíblia não está apenas no que está escrito, explícito, palpável aos olhos, mas a grandiosidade desses textos estão naquilo que está encoberto e precisa ser desvendado através da revelação do Espírito Santo.
Vamos aos porquês...

“Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” Ef 6:17

    Vamos analisar as palavras: espada e palavra. É importante salientar que um texto nunca está isolado, seu significado está envolto em um contexto maior e analisa-lo exige estar familiarizado com esse contexto, é interessante lermos todo o livro, todo o capítulo, algumas outras fontes, sejam elas, históricas, arqueológicas, costumes da época, outras versões, dicionários bíblicos, textos originais (grego ou hebraico), etc., isso nos dará subsídios, para entendermos o que significa o texto. Ainda assim é importante salientar outra coisa. O centro do nosso estudo é a Palavra de Deus, e esta sempre deve ser considerada. Não as fontes de consulta paralelas.

    Vamos começar com o contexto geral. O texto é muito conhecido, é complemento de Ef 6: 13-17. Uma carta endereçada aos fiéis que estão em Éfeso, provavelmente não só à igreja dos efésios, mas a todas as igrejas da região, porém, recebe o nome de carta aos Efésios por ser esta a igreja mais proeminente da região. Provavelmente foi escrita por Paulo (alguns estudiosos discordam que foi ele quem escreveu), enquanto ainda estava preso. A carta está centrada na ideia de que Deus quer a união de todas as coisas em Cristo, e utiliza a Sua igreja para esse fim. Não há mais barreiras de nacionalidades, raças, cor ou cultura, a igreja é um único corpo em Jesus Cristo. A igreja é representada na carta aos Efésios como sendo a noiva (5: 21-33), como sendo o corpo (4:11-16) e como sendo templo (2:19-22), aqui está a ideia central da carta.

    Observemos agora o contexto onde a passagem que estamos analisando está inserida. O texto é por muitos denominado: a “Armadura de Deus”, e de fato é. A analogia é pertinente, tendo em vista a região de Eféso ser dominada pelo Império Greco-romano em crescente expansão e soldados portando suas armaduras serem comuns à vista de todos, o fato é confirmado pela cidade de Éfeso ser uma cidade greco-romana (situada nas proximidades do que hoje é a Turquia). Lá há um importante sítio arqueológico onde se encontra um grande cemitério de gladiadores. Comprovando o fato da região ser povoada por soldados romanos, e esses serem figuras comuns à vista de todos. Assim, para que entendamos a relação da armadura de Deus em analogia com a armadura de um soldado romano precisamos conhecer as armaduras romanas à luz do texto bíblico:

1.    Cingidos os lombos – A referência se faz a investidura da autoridade que estava sobre um soldado romano, analogamente seria algo como o poder de soldado de polícia tem sobre um cidadão comum de fazer cumprir a determinação do Estado de manter a lei e a ordem.
2.      Couraça – De forma geral a couraça era uma peça de couro feltro ou de algum metal, geralmente feita em escamas ou cotas de aço, permitia a  mobilidade do portador dessa e protegia contra gospel curtos de laminas cortantes.
3.    Calçados – a maioria usavam sandálias, outros (mais raramente) uma espécie de bota, mas tinha a finalidade principal de proteger os pés nas caminhadas de grandes hostes de soldados.
4.    Escudo – Haviam vários tipos de escudos, mas, dois se destacavam, escudos grandes usados pela infantaria pesada que protegiam todo o corpo. Eram feitos de material como a madeira e recobertos de bronze polido que brilhavam ao sol,estes quando refletiam a luz solar podia "cegar" temporariamento o oponente, e outro menor, normalmente de forma ovalada, mais leve, para proteção no combate corpo a corpo
5.      Capacete – Antes usados apenas pelos generais e líderes, mas depois utilizados por todos os soldados para a proteção individual principalmente para o pescoço, cabeça e orelhas.
6.      Espada – A espada romana podia ser de 3 tipos
     i. Lança – era comprida, normamente maior que um soldado e era usada pela infantaria pesada e pela cavalaria, podia acertar um oponente a longa distância, mas restringia o seu uso no combate individual.
       ii. Espada de combate – um espada curta, normalmente de dois gumes, o que permitia o soldado perfurar o corpo do adversário de forma eficaz, normalmente levada na cintura, porém em combate corpo a corpo era levada escondida atrás do escudo, o que ludibriava o oponente de forma a fazê-lo acreditar estar desarmado o seu portador. É a espada mais comumente usadas pelos soldados romanos.
       iii. Adaga – utilizada como utilitário (cortar alimentos, coisas ou animais, para a alimentação) mas também usada como arma pois podia ser escondida até mesmo nas correias das sandálias.

Assim era um soldado romano comum a todos os moradores de Éfeso.
                                 
    Até agora o que estudamos foi história, contexto bíblico, analogias e costumes, por enquanto... Nenhuma revelação. Observemos agora o versículo que estamos analisando, porém, mais especificamente os verbetes “espada” e “palavra” do versículo 17, e façamos a nossa pergunta. Por quê Paulo usou a palavra espada para se referir a palavra de Deus? Que espada é essa. Uma adaga, uma espada de combate ou uma lança? Porque que a espada está relacionada à palavra? Para que eu quero uma palavra que sirva como espada? Que palavra é essa? A que foi ouvida, a que está escrita ou a palavra falada? Ele se refere à palavra da Lei de Moisés, da palavra dita pelos profetas, da palavra de Jesus ou de outra coisa escrita na época? Surgem mais perguntas que respostas! Nessa parte alguns dos “estudiosos” da Bíblia desistem e se contentam apenas com o que o texto diz explicitamente, são palavras fantásticas, de fato, mas não é tudo ainda... há mais! Escondido. E aqui começa a beleza da Bíblia! A revelação da Palavra viva de Deus.
   
    Os leitores hão de se lembrar, que a Bíblia não necessita de interpretação. Ela própria já é a interpretação. 

    Então, analisemos o texto original.

   A palavra espada no original grego é machaira faz alusão à espada de combate e como foi dita ela era utilizada por um soldado, presa à cintura quando não estavam em combate e escondida atrás do escudo quando no embate corporal, podia ser usada quando o inimigo não esperasse o ataque. O verbete “palavra” não é qualquer palavra, ao contrário do que alguns possam pensar, não é a palavra escrita, é a palavra falada, no texto original: rhema. Palavra essa que todo o cristão que vive em união e comunhão com a sua igreja, como noiva de Cristo (ver contexto da Carta) , em concordância com Cristo Jesus (sendo uma só com Cristo), pode carregar, não em baixo do braço, não em papéis escritos em um livro, mas rhema são palavras guardadas no recôndito de um coração quebrantado! A palavra que o autor fala não é a palavra dita ao acaso, mas é uma palavra que tem poder de transformar, não como uma frase mágica, mas com o poder de convencer o pecador de seu pecado, a palavra rhema usada por um guerreiro que porta a armadura de Deus, aludida no texto deve ser usada escondida por trás do escudo da fé, não ao acaso ou por acaso, mas usado por lábios hábeis, que manejam bem a palavra (como um soldado), escrita nas tábuas do coração. Ela é usada no momento de embate corpo a corpo com o inimigo, tem a sua lâmina tão afiada que pode penetrar até a divisão de alma e espírito. A palavra que pode toda a vida transformar. Essa sim é a palavra viva de Deus de que fala a Bíblia! Aleluia! 

    Caros irmãos, se observarmos o contexto da carta aos Efésios, ele fala exatamente, de atuarmos na união do corpo de Cristo (como um exército romano), de utilizamos armas de Deus contra o inferno (como um soldado), e no combate, vencendo como igreja (afinal um soldado sozinho, não vence batalhas) assim se dá o crescimento da igreja, a união da igreja como templo, como noiva, como corpo. Isso acontece por meio do embate corpo a corpo com o inimigo, realizado por um povo remido, por um povo que tem a Bíblia não apenas nas mãos mas dentro do seu coração!

    Observando esse contexto, é fácil entender como passagens do tipo "... O reino de Deus é tomado à força..." ou "...nossas armas não são carnais mas poderosas em Deus..." Fazem mais sentido ainda do que antes.

    Amigos, antes de continuar, perceba (novamente) que a Bíblia não precisa de interpretação, não precisa que o transmissor da mensagem, enquadre-a, dentro das suas vontades, mas o pregador precisa se enquadrar dentro do que a Bíblia quer falar. 

    Essa é apenas uma lição da Bíblia contidas em apenas duas palavras: "espada e palavra" Há outras interpretações para o texto: 

1. Podemos falar sobre evangelismo, de quando o cristão é pego de surpresa e não tem a Bíblia escrita em mãos e tem que tomar apenas a palavra rhema que será usada no momento em que o inimigo pensar que não há mais armas.
2. Podemos, falar da importância de sempre ler a Bíblia e tê-la não só nas mãos, mas no coração
3. De como a Igreja como um todo é um exército feito de guerreiros.

    Podemos falar, ensinar, exortar, encorajar e uma outra infinidade de assuntos como apenas duas palavras da Bíblia. Eis a beleza da Bíblia! O poder da Palavra de Deus não está apenas naquilo que está escrito, mas naquilo que "não está escrito", daquilo que está por detrás do texto, "...aquilo que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, foi o que Deus preparou, para aqueles que o amam”.

    Aquilo que está escrito e explícito na palavra de Deus, transforma, realiza, cura e liberta... isso é um fato! E é real! Contudo, essas águas estão somente pelos tornozelos, ainda há grandes águas diante de nós, águas profundas, águas insondáveis e inefáveis (Ez 47:3-6). E estão além daquilo que está escrito! Mergulhar no estudo da Palavra de Deus e conhecer a verdade viva da Palavra do Senhor é entrar mar à dentro, nos planos de Deus para nossas vidas.

A Bíblia está ao seu alcance. Mergulhe! Desvende! Deus falará com você! Entrar nesse rio, depende de você!

Bons estudos!


Fernando e Isabella

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