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sábado, 11 de janeiro de 2014

QUEM CHAMOU MOISÉS?... EU SOU?

QUEM CHAMOU MOISÉS?... EU SOU?
Ex 3: 1-15

    Deus escolhe Moisés para ser o libertador para Israel, e como já vimos, esse libertador do povo é uma pessoa que de perseguido passou a ser parte da corte egipcia, porém, rapidamente, se transforma, de um nobre egípcio à fugitivo, com sua cabeça a prêmio.
    Conforme vimos anteriormente, o faraó que buscou matar Moisés foi ironicamente a mesma pessoa que havia crescido juntamente com ele (Ex 2:15) (Tutmés III), aquele que supostamente seria seu amigo, alguém que havia crescido juntamente com Moisés, que aprendera nas mesmas escolas, foram iniciados na cultura e na arte egípcia, agora perseguia Moisés, que se refugia no deserto de Midiã e lá passa cerca de 40 anos. A data é coerente, levando em consideração ser o faraó do Êxodo Amenófis II. A data do regresso de Moisés para o Egito, com aproximadamente 80 anos (observe o gráfico abaixo). E é esse período que estudaremos.

    Já vimos que Moisés, agora com 40 anos, foge do Egito para o deserto de Midiã, estando sob uma condenação à pena de morte, por haver matado um egípcio (Ex 2:14,15). Flavio Josefo diz na sua obra "História dos Hebreus" que independente de ter cometido o assassinato do egípcio os líderes do Egito estavam com grande desejo de matar Moisés. De acordo com Josefo, Moisés era um dos principais generais do exército egípcio, e havia empreendido grandes campanhas a favor da nação do Egito, e por ser considerado filho da filha de faraó (Hatsepsute), seria um candidato em potencial ao trono, levando em consideração, essa rainha não ter tido filhos biológicos.
    O povo egípcio não considerava tais atos militares de conquista e a posição do jovem Moisés. É claro que isso causava grande ciúme nas lideranças egípcias e a perseguição de Moisés aconteceria, mais cedo ou mais tarde, o caso da morte do egípcio foi apenas o estopim do que já intentavam os egípcios. 
    Moisés havia passado 40 anos na corte egípcia e agora passa mais 40 anos no deserto como pastor. A princípio parece ser um contra senso, primeiro Deus permite que Moisés faça parte dos principais nobres do Egito e depois o retira de lá para que viva uma vida de esforço como pastor das ovelhas de seu sogro Jetro. Ao mesmo tempo que Moisés se preparava em toda a cultura do Egito para se tornar legislador do povo de Israel, também se tornava pastor de ovelhas aprendendo a cuidar, ao invés de ser servido na corte real. Moisés passa por duas fases da vida de qualquer ser humano, que definiremos de carreira vocacional e carreira espiritual, não por pouco tempo, mas todas duas fases divididas em períodos muito próximo de tempo, ou seja, 40 anos. Perceba que quando falamos de dois períodos muito parecidos, podemos fazer ainda uma referência ao que vimos na aula: "Cristãos seres de duas dimensões".        
    Foram duas fases de vida que Moisés, e todas elas, importantes. Uma de abastança e conhecimento em artes militares, cultura, leis e toda sorte de conhecimentos característicos da cultura daquele povo, e a segunda fase da vida de Moisés serviu como preparação para o chamado de Deus na sua vida.
    Do nascimento à sua chamada, passaram-se aproximadamente 80 anos, quarenta no Egito e quarenta no deserto todo esse período que serviu não apenas para o aprendizado de Moisés, contudo, também foi para o povo.
     Moisés era fugitivo no deserto de Midiã, e o faraó que procurava mata-lo, morre e a servidão do povo, aumenta sobremaneira com o faraó seguinte, Amenófis II, que como conta a história ficou conhecido por sua grande crueldade.
    Isso faz o povo se lembrar, das promessas feitas por Deus à Abraão, Isaque e Jacó e o povo começa a clamar a Deus, suspirando por causa da servidão (Ex 2:23). O povo estava desiludido com o Egito de outrora, onde se conhecia os feitos por Deus através de José.
   Enquanto isso Moisés está no deserto, servindo como pastor de seu sogro Jetro, lá,  e em meio à sequidão do deserto, Deus prepara o primeiro contato com Moisés e o apronta para a obra que Deus tinha programado, antes do seu nascimento.
    Enquanto apascentava o rebanho no monte Horebe, apareceu-lhe um anjo de Deus numa sarça que queimava e não se consumia.
    O que Moisés contempla é o que chamamos de teofania.
    A palavra tem origem nas palavras gregas theos (Deus) e phainein (mostrar, manisfestar), que como fica fácil desvendar, foi a manifestação visível de Deus invisível. Adentramos aqui, em um ponto muito discutido entre teólogos, porém, é óbvio, que não discutiremos em pormenores detalhes a aparição, pois não é o caso, mas veremos de forma bem geral o que foi essa manifestação na sarça, que queimava e não se consumia vista por Moisés quando Deus o chama para a obra de libertação de sEu povo.
    Relacionamos ao aparecimento de Deus na sarça ardente do que chamamos de antropormofismo, que nada mais é, do que a atribuição de formas e características tipicamente humanas à Deus. Como por exemplo, olhos, mãos, rins ou qualquer coisa semelhante.
    Deus tem os seu modos de aparecer ao ser humano, e o antropomorfismo relaciona o modo e como ele utiliza a nossa realidade (palpável) para se fazer entender.
    No nosso vocabulário (ou qualquer vocabulário que seja), não é, ou jamais será capaz de descrever com perfeição quem é Deus. Nós cristãos sabemos muito bem disso, do que é não poder descrever quem é Deus, levando em consideração, o sentimento que nos inunda quando estamos sentindo a presença do Senhor dentro de nossa alma. Seria no mínimo frustrante tentar definir tal sentimento, quando Deus nos brinda com sua presença. A Bíblia chama esse sentimento de gemidos inexprimíveis (Rm 8:26). Porém, Deus não é confusão, o Senhor quer mostrar-se ao seu povo de forma, que a nação de Israel, possa reconhe-lo como Deus que é. Então como fazê-lo sem ser inexprimível?
    Entramos em um contra senso, pois se não se pode definir Deus, com palavras que expressem esse grandioso Deus. Como Deus se faz conhecido entre os homens?
    É aqui que entra o que estamos estudando: a teofania e a significação do nome.
    A teofania, de forma geral, é a manifestação visível do Deus invisível, e a atribuição de características tipicamente humanas a Deus (é o que chamamos de antromorfização).
Começaremos assim.
    É óbvio, que Moisés, durante 40 anos como pastor dos rebanhos de seu sogro Jetro no deserto, teve contato com o Deus, haja vista, ser Jetro sacerdote em Midiã (Ex 2:16), porém, a experiência de Moisés, agora diante da sarça que queimava mas não se consumia era diferente, era algo pessoal e ímpar.
    É interessante entendermos o que aconteceu ali diante de Moisés e a sarça, que já definimos como uma teofania, que é a manifestação visível do Deus invisível. Porém, essa manifestação visível tem um propósito.
O primeiro é mostrar que Deus é Deus. Simples assim!
    A manifestação de Deus na sarça tem um pano de fundo singular, no que tange a manifestação da presença de Deus de forma visível para Moisés. A intenção de Deus em fazer com que a sarça que queimava, não se consumisse era em primeiro lugar mostrar a Moisés que o que ele presenciava não era algo comum, mas, sobrenatural.
(Nota: Fogo. É a energia "consumidora" de todo material existente na terra. O fogo e a energia desprendida por intermédio do calor, no ramo da química, é tão importante, que existe uma área do estudo dos materiais que trata exclusivamente dele, chamada termoquímica.)
     A sarça não se consumir tem como primeira intenção chamar a atenção de Moisés para aquele que falava, ou seja, o próprio Deus (Ex 3:4). Algo de diferente acontecia ali, te um fogo que acendera sem mais nem menos, sem que ninguém o tivesse ateado, um arbusto que não se consumia com o fogo, e uma voz do meio dos arbustos que sabia, a quem se dirigia.
    Moisés ao chegar perto do arbusto ouve o "anjo" dizer-lhe que era o Deus de seus pais (Ex 3:6). A teofania ocorrida ali, tem a função primordial de transmitir a onisciência, a vontade e os planos do próprio Deus para o seu povo.
    O texto nos mostra a reverência de Moisés ao ouvir que a presença sobrenatural de Deus santificava aquele lugar, mas parece, por um instante, que Moisés embora tenha contemplado a presença visível de Deus, tenta fugir do chamado de Deus para libertar o povo (Ex 3:10,11), porém, a pergunta seguinte mostra características muito importantes para que Moisés, o povo e o próprio faraó reconhecesse que Moisés foi realmente enviado por Deus, e como o verdadeiro Deus de Israel. Quando Moisés pergunta o que falará diante de faraó, Deus é enfático ao dizer que quem o enviou foi o EU SOU!
    Perceba a importância de quem chama Moisés: O EU SOU.
    Antes de entrarmos no mérito daquele que chama Moisés, veremos como a cultura hebraica trata os nomes pessoais de uma forma geral.
    Nas escrituras o nome pessoa é a expressão da natureza do seu portador. Vemos isso, por exemplo, no nascimento dos irmãos gêmeos, Esaú e Jacó, que por serem gêmeos, um nasceu antes, e esse foi Esaú, e por ter a pele coberta com muita penugem (o que não é raro vermos em muitos bebes hoje), foi chamado de Esaú (Gn 25: 25) que significa "peludo". O irmão de Esaú, ao nascer estava literalmente "agarrado" ao calcanhar do irmão, os hebreus, dessa forma, julgaram que este intentava roubar a primogenitura de Esaú, e por isso recebeu o nome de Jacó, que significa "enganador", "usurpador".
    É óbvio, que um bebê recém-nascido nada entende sobre tradições hebreias de primogenitura, mas o fato é que os nomes Jacó ou Esaú os acompanhava durante toda a vida, e mais do que isso, esses nomes carregavam o peso de sua significação, fosse boa, ruim ou indiferente. O fato é que para os judeus até o dia de hoje o nome traz a expressão da natureza de quem é o portador.  
    Para Jacó certamente não foi fácil carregar o nome de "enganador" durante toda a sua vida, pois isso não só definia como era definido, mas trazia características intrínsecas de Jacó, ou seja, um enganador. Posteriormente, Deus mudaria o nome de Jacó (enganador ou usurpador) para Israel (O que luta (persiste) com Deus). A nação escolhida por Deus, dessa forma, não se chama "filhos de Jacó" ou como vimos "filhos do enganador", "filhos do usurpador", mas foram chamados de "filhos de Israel" ou "filhos dos que lutam com Deus" (Ex 1: 9,12)
    Outro caso interessante é o de Noemi (agradável) que depois muda o seu nome para Mara (amarga). A mudança mostrava, que a portadora do nome, antes uma pessoa agradável, depois da perda de seu marido e seus dois filhos, torna-se uma pessoa amarga.
    Levando tudo isso em consideração, então, que características trazem o nome EU SOU? E, de que forma, essa identificação para o povo e mesmo para faraó teriam, quando Moisés dissesse que o EU SOU, me enviou?
    Ninguém, nas Escrituras Sagradas possui tantos nomes quando Deus, e em todos eles, os nomes mostram características particulares do EU SOU, de acordo com cada situação, onde Deus mostra sua ação ao longo da história do povo ou de pessoas em particular.
    Os nomes de Deus são muitos e aparecem dispersos nas Escrituras, mas, alguns dos nomes de Deus que na Bíblia são traduzidos por Senhor ou Deus são: 

    - El - maneira genérica de deus, seja verdadeiro ou falso (p.ex em Is 44.10,15)
    - Elohim - Forma plural de 'eloah - Divindade suprema (p.ex em Dt 4: 35,39)
    - Adonai - Aparece no sentido de senhorio, soberano, amo, traz o sentido de autoridade (Sl 110:1)
    - El Elyon - Deus Altíssimo (p.ex em Nm 24:16, Sl 9:2)
    - El Shaddai - Deus Todo Poderoso (p.ex em Gn 17:1)
    - El 'Olam - Deus eterno (p.ex em Gn 21:33)
    - Attiq Yomin (p.ex em Dn 7:9;13;22)
    - Jehovah-jireh - Deus da provisão (p.ex em Gn 22:13,14)
    - Jehovah-nissi - O senhor é a minha bandeira (p.ex em Ex 17:15)
    - Yahweh-shalom - O Senhor da paz (p.ex em Jz 6:24)
    - Yahweh-tsidekenu - O senhor é a minha justiça (p.ex em Jr 23:6)
    - Yahweh-shammah - O senhor está ali (p.ex em Ez 48:35)
    - Yahweh-Sabaoth - O Senhor dos Exércitos (p.ex em 1Sm 1:3)
   

    Esses nomes são mais conhecidos no AT, por causa da sua relação com situações de Deus para com o povo, do relacionamento com Israel ou com pessoas em particular. Outros nomes como: Rocha, Pai, Mestre, Juiz, Pastor de Israel, Primeiro e Último, alfa e ômega, Pai das Luzes, Príncipe da Paz, Pai da Eternidade, Deus conosco, Brilhante Estrela da Manhã, Segundo Adão, Rei dos reis, Senhor dos senhores e tantos outros que mostram as características únicas de Deus e consequentemente do seu Filho Jesus Cristo.
    Todas os nomes mostram atitudes ímpares de Deus, sobre quem é Deus, e o que faz Deus. Porém, um desses nomes pelo qual Deus é conhecido é como o Deus de Israel é YHWH. Segundo o dicionário Vine, o nome aparece 6.828 e é traduzida como a identificação particular de Deus, a palavra é impronunciável, e é comumente traduzido como Senhor
    Para nós é muito difícil entender como um nome impronunciável, carrega em si, características de Deus. Contudo, veremos como a tradição hebraica nos mostra, o nome YHWH está relacionado à santidade envolvida nas 4 letras que definem qual é na verdade a pessoa de Deus.
    Esse tetragrama tinha uma razão para ser impronunciável, pois por estar relacionado à santidade da pessoa de Deus, e nunca era pronunciado. Ao invés disso, quando lido era pronunciado com as vogais de Adonai, para lembrar os leitores da escritura sagrada nas sinagogas que deveriam pronunciar o nome de Deus como Adonai (Senhor). As vogais, com o passar do tempo, foram formando o nome Yahweh. Jesus na sua oração sacerdotal mostra a importância da santidade no nome do Senhor quando diz: "Santificado seja o teu nome".
    Os textos hebraicos antigos não continham vogais escritas, então os textos quando era lidos iam sendo acrescentadas as vogais conforme o contexto. O significado real do trigrama ainda não se sabe ao certo, devido a essa peculiaridade da ortografia hebraica antiga. Porém, na apresentação do Senhor (YHWH) a Moisés ele pode realmente ter a real noção de uma característica única de Deus, que é a característica única de SER O QUE É!
    Dentre todos os nomes relativos a Deus que vimos, os dois únicos que o definem com perfeição característica do Senhor, era YHWH e EU SOU, ao juntarmos o significado da santidade que carregava o nome do Senhor (YHWH) com a afirmação do próprio Deus que Ele era o EU SOU, chegamos a uma conclusão que Moisés falava em nome daquele que era em primeiro lugar SANTO. Em segundo lugar, a declaração do EU SOU, mostra que Deus subexiste por si mesmo. Essa última afirmação é feita por João quando diz que o próprio Jesus é "... o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim..." o "...que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso" (Ap 1:8). Moisés é enviado por aquele que é santo é aquele que se sustenta e sustenta a vida por si mesmo.
    Ao indagar o Senhor sobre o que falaria ao povo e a faraó, Deus está dizendo a Moisés que deve se apresentar como sendo enviado por aquele que é santo e subexiste por si mesmo, característica única do nosso Deus, e que é portador da autoridade que o nome do Senhor representa.
    Isso é tão fato que o próprio Senhor Jesus se declara como sendo o próprio EU SOU, e defende sua missão e autoridade, mostrando sua semelhança com Deus (Jo 8: 24,28,58).

"...antes que Abraão existisse, EU SOU" Jo 8:58

    Esse é outro ponto importante a observar. A atitude de falar em nome de alguém significa poder agir e tomar atitudes em nome daquele que o havia enviado e que estava investido de autoridade para tomar determinadas ações em nome daquele que o enviou. Para os nossos dias era como se determinada pessoa fizesse uma espécie de procuração, em que o portador dessa procuração teria direitos legais de falar e agir em nome daquele que assinava a procuração. Foi isso o que aconteceu com Moisés quando Deus o chamou para ir até faraó falar em nome dEle e agir com grandes feitos de Deus por intermédio de Moisés.
    Contudo, esse é assunto para outra ocasião!

Bons estudos!

Fernando e Isabella

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