EBD 22/12/13
Texto Base: Ec 11:1-8
"Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias, o acharás"
Mais uma vez a Bíblia, a inerrante Palavra do Deus vivo, nos deixa com um pulga atrás da orelha, quando diz, no texto base dessa aula, para fazermos algo aparentemente absurdo: lançar o pão sobre as águas...
Pode, num primeiro momento, parecer absurdo... mas com toda a certeza, não é! Vejamos:
Lendo o contexto em que o versículo aparece, Salomão está falando, sobre a preparação para o futuro (v.2), mostra da importância de fazer algo para o futuro, pois se não fizer nada não terá nada (v4), fala sobre ter prudência por conta das adversidades da vida (v.3,5), mostra que se deve semear pela manhã e que a tarde deve-se observar qual semente irá brotar, se uma ou as duas(v.6). Diz que devemos nos regozijar com os anos de vida, mas que há dias de trevas, e que são muitos (v.8). Algumas Bíblias (JFA-RA) trazem por subtítulo: "O procedimento prudente do sábio", mas ao começar a ler o capítulo 11, o versículo 1 mostra uma nota, do rei Salomão, no mínimo duvidosa. Se o contexto dos versículos que lemos, a alusão é à prudência, ao cuidado com o futuro. Então onde está a prudência em jogar o alimento no rio?
Comecemos pelo significado de pão: "Lança o teu pão sobre as águas..." a palavra pão no texto hebraico original é lechem (#H03899) e
significa ao mesmo tempo, pão como alimento e também o cereal usado
para fazer o pão, ou seja, trigo e cevada. Os dois significados são igualmente importantes como
veremos a seguir.
A princípio, não parece sensato jogar alimentos quando estamos falamos em sermos prudentes para o futuro, seja com o pão ou a matéria prima do pão.
A frase por parecer estar fora do contexto é, na verdade, uma metáfora a um ato muito comum em regiões muito secas e áridas, porém, regiões estas que possuiam um rio na extensão do seu território, como por exemplo era o Rio Nilo do Egito.
Ao fazer a analogia com o lançar o pão sobre ás águas Salomão está fazendo referência a uma característica que era comum em regiões como o Egito e a Palestina. que é cortada pelo Rio Jordão e tem períodos definidos de cheia, quando o rio tem o seu volume de água máximo, e de vazante quando está com o seu volume de água mínimo.
Para podermos entender a relação da cheia e da vazante dos rios é importante entendermos a relação com as chuvas e estiagens da região desértica da Palestina. Segundo o dicionário Wycliff, nem todas os rios tinham a cheia anual do rio como é a do Nilo, e portanto, dependiam da quantidade das chuvas na região. A desértica região da Palestina tinha dois períodos de chuvas, um no final do outono e outro na primavera e são referidas na Bíblia como chuva temporã e serôdia, respectivamente. O outono palestino acontecia basicamente nos meses de outubro, novembro e dezembro, a primavera nos meses de janeiro, fevereiro e março. Entre essas estações um verão quente e seco. Basicamente, a Palestina tinha duas estações definidas: do final de abril até setembro, um verão quente e extremamente seco, e o outro, de meados de outubro até abril, chuvoso. Contudo, o período das chuvas se dividiam em dois. Por ser uma região desértica, as chuvas de novembro e dezembro eram extremamente esparsas, de pouco volume de água. A esse período a Bíblia chama de "chuva temporã". As chuvas de janeiro, fevereiro e março eram mais abundantes e longas, período esse que a Bíblia chama de "chuva serôdia". E o nível dos rios estavam relacionados a essa quantidade de água.
Levando em conta o cultivo do trigo e da cevada, como matéria prima do alimento que era a base da alimentação na região da Palestina, a chuva temporã, tinha a principal finalidade de fazer germinar as mudas de trigo e de cevada plantadas nas margens do rio seco no período da seca e da baixa do rio, As mudas por necessitarem apenas de pouca água para germinarem, eram plantadas próximas as margens do rio, as chuvas temporãs esparsas da região eram suficientes para fornecer água para fazerem germinar as sementes.
O período do plantio das sementes era exatamente no início das chuvas de outubro (temporã) que aravam a terra e faziam germinar as mudas, recém plantadas. Essa era a função da chuva temporã ou das primeiras chuvas. Quando chegava ao final de dezembro as mudas já estavam grandes e necessitavam de um maior volume de água do que a chuva temporã poderia fornecer, porém era o período que começava então, as grandes chuvas. Era o período das chuvas serôdias ou das últimas chuvas.
A chuva serôdia tinha a função de fazer as mudas crescerem e dar frutos para a colheita. Ao final de abril o volume dos rios voltava a subir até o nível máximo de água, e a colheita era realizada. Nesse tempo (final de abril), as chuvas já estavam cessando.
A Bíblia faz repetidas referência a esses dois tipos de chuva, por exemplo, em Dt 11:14 quando Deus promete dar a chuva para a colheita, como decorrência da obediência do Seu povo, antes deles chegarem a Canaã: "...darei as chuvas da vossa terra a seu tempo, as primeiras e as últimas, para que recolhais o vosso cereal, e o vosso vinho, e o vosso azeite." (outras referências: Jr 5:24, Pv 16:15 e Zc 10:1)
Após a colheita do cereal no final de abril, a Palestina voltava a ter um período de aproximadamente seis meses de calor, seca e sem chuvas (do final de abril até setembro), os rios da Palestina começavam o período da vazante, onde o volume de água dos rios ficavam em seus níveis mais baixos, as margens do rio ficavam mais largas e o leito do rio mais raso, uma grande faixa de terra aparecia nas margens dos rios palestinos.
Era esse o ciclo da agricultura do trigo e da cevada e o ciclo de cheia e vazante dos rios.
Porém, após a colheita iniciava-se o período da seca onde não havia como irrigar o solo pois não havia água suficiente e passava-se seis meses sem o plantio de grãos, aquilo que foi estocado, no período de colheita, nem sempre dava para todo o ano, pois até a nova colheita, deveria-se esperar até o final de abril do ano seguinte, e por volta de dezembro, ainda não haviam florescido as mudas que aguardavam as chuvas serôdias.
Aqui voltamos até o suposto absurdo do início, e agora... mais absurdo ainda!
Se durante o período de seca, vamos ter maior escassez de pão, no nosso caso, da matéria prima do pão, ou seja, dos grãos, "por que vamos jogar os grãos que temos no rio?" Uma atitude aparentemente absurda tem um fundamento bíblico fantástico!
O ato de jogar os grãos de trigo e cevada na correnteza do rio tinha o propósito de fazer com que durante o período das cheias do rio, a correnteza levasse os grão até o fundo do rio além do lugar onde haviam sido jogados. Os grãos ao chegar no fundo do rio eram cobertos pela terra também arrastada pela correnteza, e lá permaneciam, até que o período da seca começasse no final de abril, aproximadamente em abril, já com as águas baixando e as sementes enterradas no leito do rio começariam a brotar. Mas você deve se perguntar, como elas brotariam sem a água das chuvas para regá-las? Para que regar? as sementes estão no leito do rio, onde teria mais água que no subsolo do rio? A pouca água do subsolo do rio era suficiente para fazer as sementes depositadas brotarem, as chuvas no início de outubro dariam força e fariam os frutos nascerem até o final de dezembro. O período da cheia e a correnteza do rio, carregava nutrientes e sedimentos, e enquanto o rio entrava na sua vazante esses sedimentos se depositavam no fundo junto com as sementes o que favorecia o crescimento dos brotos e dos frutos no final de dezembro. O povo, dessa forma, realizaria duas colheitas. Uma ao final de abril, quando cessariam as chuvas serôdias e outra no final de dezembro, quando terminavam as chuvas temporãs, assim não teriam a falta de grãos nos celeiros.
Uma atitude, a princípio, absurda, jogar grãos que deviam ser estocados para o futuro eram o motivo de alimentar o povo até a próxima colheita de grãos.
O ato de jogar os grãos nas águas do rio, era um ato de fé, os judeus não tinham certeza de onde seria a colheita e como seria a colheita, apenas sabiam que a colheita aconteceria e aconteceria em tempo de chuvas serôdias quando os outros ramos estavam apenas crescendo.
Salomão faz referência a aproveitar a vida sob o céu, é diz que é vaidade, não é porque a vida não deve ser vivida em sua plenitude, por a vida que Deus nos deu, é sim para ser vivida. Contudo, tem que ser vivida, semeando com grãos jogados no rio, que aos olhos de todo o mundo pode ser absurdo.
Enquanto para o resto do mundo é tempo de aproveitar o que se colheu, continuamos semeando e semeando, fazemos aquilo que o Senhor manda que façamos, mesmo sendo aos olhos de todos um absurdo, continuamos jogando grãos no rio, por que "Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus" (1Co 1:18)".
Nos tempos de seca, saberemos a "...a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve." (Ml 3:18), então desfrutaremos e saberemos "...que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus..." (Rm 8:28).
Ainda uma belíssima promessa de Oséias 6: 3, a respeito da chuva de Deus!
"Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra"
Para aqueles que amam à Deus, a promessa da sua vinda diz que ela é certa como a luz da manhã. Ele virá como a chuva serôdia, abundante, aquele que fará o broto da semente florescer e dar os frutos em seu devido tempo!
Bons Estudos!
Fernando e Isabella
Pensa numa aula legal... muito bom... glória Deus!!!
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