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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

MANDOU OU NÃO MANDOU?



uma semana a pergunta de um amigo, Anderson (Deus te abençoe!), me deixou encasquetado… 

Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei a carne.  Pois não falei a vossos pais no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem.”
 
                                                   Jr 7 21-23

     Como não? E o que a nação estava fazendo? Estava errado até àquele dia?

     Vamos nos prender ao contexto inicial, quando isso foi dito pelo profeta Jeremias…
1. O território israelita era um território disputado por babilônicos e egípcios, território esse, que seria conquistado mais tarde por babilônicos.
2. Jeremias “pressentia” (através dos oráculos proféticos de Deus) a chegadas dos babilônicos bem antes do povo se aperceber disso. Povo esse que não estava muito aí para as profecias de Jeremias.
3. O pano de fundo para o para as profecias de Jeremias então, é a batalha entre a adoração idólatra aos deuses estrangeiros e a adoração ao Senhor.
4. Nos capítulos iniciais do livro (até o 7) Jeremias exorta Judá a arrepender-se e evitar o castigo de Deus
5. Fundamentalmente do capítulo 7 em diante (até o 10) mostra os oráculos de Deus em especial sobre o julgamento de Judá. Mais especificamente no capítulo 7 ao 10, fala da liberdade do Senhor em para julgar o seu povo.

(Para um entendimento mais completo… leia Jeremias Cap 1 à 10)

Esse é pano de fundo…

     No capítulo 7 notaremos que Jeremias está falando fundamentalmente:
1. Que o templo não protegerá a nação iníqua
2. Que a intercessão dele (o profeta) não salvaria o povo rebelde
3. Que Judá é rejeitado por Deus

Pois bem…

     Jeremias se põe a porta do templo para falar tudo isso que o contexto já nos mostra, a sua palavra (deJeremias) acabava tendo muito peso, uma vez que ele era um sacerdote. Estudiosos apontam que Jeremias profetizava no tempo em uma das festas judaicas (Pães Asmos, Sega ou Colheita), uma vez que todo o povo de Israel estava presente a estas festas. A mensagem de Jeremias era: “endireitem os seus caminhos ou vocês não terão direito a esta terra e sofrerão as consequências de seus atos(paráfrase minha).
     A confiança de todo o povo estava em falsas declarações, certamente da parte dos sacerdotes. O povo acreditava que por estar presente no templo do Senhor e acreditar em todas as palavras que lá eram proferidas já seria suficiente para adorar à Deus (o que pode ser percebido no v. 4 e 8), mas suas atitudes estavam longe de uma verdadeira adoração (v.9 e 10). Acreditavam inclusive estarem salvos. Uma falsa adoração que produzia uma falsa segurança.
     Quanto a citação à Siló (v12, 14), este era o lugar central da adoração para Israel antes de Davi instituir Jerusalém como capital, a lembrança a ela, se dava porque ela não existira mais (provavelmente teria sido destruída pelos filisteus), e que fazia alusão ao lugar onde Deus era adorado, mas que não escapou ao seu justo juízo.
Nesses versículos (1 à 15) Jeremias profetiza sobre a equivocada confiança dos homens de Israel no templo, no lugar da adoração, no tabernáculo que se buscava ao Senhor, na casa que se chama pelo seu nome, quando as reais atitudes (v. 9) estavam mascaradas por uma falsa adoração.
     Os versículos 16 ao 20, estão exortações a Jeremias para não importuná-lo (ao Senhor) com suas orações, porque as atitudes do povo (pais, filhos e mulheres, ou seja, famílias inteiras) estão mais voltadas a adoração de outros deuses, como à Rainha do Céus, (referência à deusa Istar, deusa babilônica da guerra e da fertilidade) do que ao verdadeiro Deus.
     Isso tudo é um pouco mais do pano de fundo onde a nossa história se desenvolve.
Não fica difícil descobrir que a confiança dos homens (e das famílias) daquela época estava apenas em rituais sem sentido prático da verdadeira adoração ao Senhor, no templo e fora dele, quando na verdade a verdadeira adoração estava de fato longe de seus corações.
A partir do versículo 21 Deus se expressa de maneira mais enfática quanto a isso.
     Sacríficios ritualísticos desacompanhados de uma adoração interna verdadeira não interessavam à Deus. Que eles fizessem com os sacrifícios aquilo que quisessem! Até comê-los, se os oferecessem daquela maneira. Não tinha importância para Deus!
     Isso era muito impactante para o povo, uma vez que o sistema de sacrifícios revelado a Moisés no deserto ao saírem do Egito, ainda estavam em vigor… é aqui que surge o problema… se estavam em vigor, como Deus diz que nada falou a respeito desses holocaustos e sacrifícios?
    Segundo Champlin (pag 3009) “Alguns dizem que Jeremias não eliminou o que era sacrificial, ritual e cerimonial, mas percebeu que essas coisas eram inteiramente inúteis; e, na nação de Judá de seu tempo, eram realmente fúteis.”
Note! Aqueles sacrifícios eram inúteis! Ele continua:

     Naturalmente, deveria ser uma obediência prestada de coração, e não um mero zelo em cumprir os deveres determinados por Moisés.”

     Uma vez que os sacrifícios ritualísticos de animais prefiguravam um Cristo morto pelos pecados, alguns estudiosos, apontam para um Jeremias de fato focado, não no ato religioso em si, mas na mudança que deveria ser mais interna do que exterior através desses rituais. (vai saber…)

     Trazer a tona que esse pensamento de Jr 7.22 é literal, de que ele (e o próprio Deus) descarta tais aspectos sacrificiais significa dizer, em muitos aspectos, que o sistema sacrificial do antigo testamento estaria equivocado, uma vez que foi instituído por homens e não por Deus.
     Dizer que a retórica de Jeremias é literal, seria também trazer a baila o equívoco de que tais sacríficos também não podem prefigurar a morte do Cristo em favor dos pecadores perdidos conforme o Novo Testamento, uma vez que este mesmo admite as ordenanças divinas sobre sacrifícios, mas os vê como uma fé primitiva que prefigurava a substância da verdadeira espiritualidade em Cristo.
    Para chegarmos a uma concordância sem ferir o texto bíblico (e quem sabe, salvar Jeremias de blasfêmia ou heresia), podemos dizer que:
1. Os sacrifícios não eram a “principal” questão em vista.
2. Os “sacrifícios de seus dias” eram fúteis, e que ele não estava atacando sacrifícios históricos.
3. Os sacrifícios de animais só são aceitáveis quando acompanhados por uma fé de todo o coração, vinculada à obediência moral à lei mosaica.

     A terceira opção equivaleria dizer que Jeremias estava centrado em uma compreensão cristã da lei de Moisés, o que é muito plausível…. E “sinistro”…
A compreensão do texto não é trivial… Porém...

    Note outros autores bíblicos que tiveram o mesmo pensamento e revelações, também professaram ideias similares orientados pelo mesmo Deus que Jeremias.
    Note as expressões: “Ouvi a Palavra do Senhor” em Is 1:10, Os 4: 1 e “Ouvi ,agora, o que diz o Senhor” em Mq 6.1, que traz em si a veracidade das afirmações, e para quem ela é endereçada em Is 1:10 em Os 6: 4 e em Mq 6: 3, perceba a semelhança com a mensagem de Jeremias… é incrível!!)

Ouvi a palavra do Senhor, governadores de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecerdes perante mim, quem requereu de vós isto, que viésseis pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação. As luas novas, os sábados, e a convocação de assembléias... não posso suportar a iniqüidade e o ajuntamento solene! As vossas luas novas, e as vossas festas fixas, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer.
Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue.”
(Is 1: 10-15)


Pois misericórdia quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos. Eles, porém, como Adão, transgrediram o pacto; nisso eles se portaram aleivosamente contra mim. Gileade é cidade de malfeitores, está manchada de sangue. Como hordas de salteadores que espreitam alguém, assim é a companhia dos sacerdotes que matam no caminho para Siquém; sim, cometem a vilania. Vejo uma coisa horrenda na casa de Israel; ali está a prostituição de Efraim; Israel está contaminado. Também para ti, ó Judá, está determinada uma ceifa” (Os 6: 6-11)


Com que me apresentarei diante do Senhor, e me prostrarei perante o Deus excelso? Apresentar-me-ei diante dele com holocausto, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de miríades de ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto das minhas entranhas pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6: 6-8)



Incrível, não!?

Pois bem! Como conclusão…

     Podemos entender que a mensagem de Jeremias pode muito bem ter sido endereçada a uma época e realidade em especial, assim como foi a mensagem de outros profetas igualmente controversa. Jeremias (e os outros) podiam não estar querendo abolir a lei em si ou o sistema sacrificial, mas estava a censurar a atitude pecaminosa com que o povo e os sacerdotes conduziam a nação a uma adoração idólatra e apóstata, o que obviamente, desagradava ao Senhor (afinal todos eles falaram, com palavras do próprio Deus).

     Por outro lado…

     Podemos concluir, que de fato, Jeremias era um hebreu radical e devemos tomar o texto como literal, como se o profeta tivesse tido, de fato, uma espécie de revelação maior (essa sim, tipicamente cristológica) que todos aqueles sacrifícios mosaicos, não prefiguravam uma adoração verdadeira (e diante da apostasia, ainda menos). Talvez a declaração de I Sam 15:22 de que “obedecer é melhor do que o sacrificar” seja a melhor relação na sua declaração.

     Independente de qualquer conclusão que escolhamos, seja a de que Jeremias estava sendo pontual no seu tempo e situação em sua colocação do v. 22 ou que realmente ele estava sendo radical com relação ao sistema sacrificial mosaico, por intermédio de uma revelação do próprio Deus… lembremos….

    O importante no texto não é exatamente se Deus deu ou não ordenanças sobre os holocaustos e sacrifícios, mas que a apostasia e a adoração a outros deuses deve sempre ser combatida através da verdade expressa na Palavra do Senhor!

Obrigado Anderson!

Bons estudos!

Fernando e Isabella

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