Há
uma
semana a
pergunta
de um
amigo, Anderson (Deus te abençoe!), me deixou encasquetado…
“Assim
diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos
holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei a carne. Pois não
falei a vossos pais no dia em
que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca
de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei:
Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o
meu povo; andai em todo o caminho
que eu vos mandar, para que vos vá bem.”
Jr
7 21-23
Como
não? E o que a nação
estava
fazendo? Estava errado
até àquele
dia?
Vamos
nos prender ao contexto inicial, quando isso foi dito pelo profeta
Jeremias…
1.
O território israelita era um território disputado por babilônicos
e egípcios, território esse, que seria conquistado mais tarde por
babilônicos.
2.
Jeremias “pressentia” (através dos oráculos proféticos de
Deus) a chegadas dos babilônicos bem antes do povo se aperceber
disso. Povo esse que não estava muito aí para as profecias de
Jeremias.
3.
O pano de fundo para o para as profecias de Jeremias então, é a
batalha entre a adoração idólatra aos deuses estrangeiros e a
adoração ao Senhor.
4.
Nos capítulos iniciais do livro (até o 7) Jeremias exorta Judá a
arrepender-se e evitar o castigo de Deus
5.
Fundamentalmente do capítulo 7 em diante (até o 10) mostra os
oráculos de Deus em especial sobre o julgamento de Judá. Mais
especificamente no capítulo 7 ao 10, fala da liberdade do Senhor em
para julgar o seu povo.
(Para
um entendimento mais completo… leia Jeremias Cap 1 à 10)
Esse
é pano de fundo…
No
capítulo 7 notaremos que Jeremias está falando fundamentalmente:
1.
Que o
templo não protegerá a nação iníqua
2.
Que a
intercessão dele (o
profeta)
não salvaria o povo rebelde
3.
Que Judá é
rejeitado por Deus
Pois
bem…
Jeremias
se põe a porta do templo para falar tudo isso que o contexto já nos
mostra, a
sua palavra (deJeremias)
acabava tendo muito peso, uma vez que ele era um sacerdote.
Estudiosos apontam que Jeremias profetizava no
tempo em uma
das festas judaicas (Pães Asmos,
Sega ou Colheita), uma vez que todo o
povo de Israel estava presente a estas festas. A mensagem de Jeremias
era: “endireitem os seus caminhos ou vocês não terão direito a
esta terra e sofrerão as consequências
de seus atos” (paráfrase
minha).
A
confiança de todo o povo estava em falsas declarações, certamente
da parte dos sacerdotes. O povo acreditava que por estar presente
no templo do Senhor e acreditar em todas
as palavras que lá eram proferidas já seria suficiente para adorar
à Deus (o
que pode ser percebido no v. 4 e 8), mas suas atitudes estavam longe
de uma verdadeira adoração (v.9 e 10). Acreditavam
inclusive estarem salvos. Uma
falsa adoração que produzia uma falsa segurança.
Quanto
a citação à Siló (v12, 14), este era o lugar central da adoração
para Israel antes de Davi instituir Jerusalém como capital, a
lembrança a ela, se dava porque ela não existira
mais (provavelmente teria sido destruída
pelos filisteus), e que fazia alusão ao lugar onde Deus era adorado,
mas que não escapou ao seu justo
juízo.
Nesses
versículos (1 à 15) Jeremias profetiza sobre a equivocada confiança
dos homens de Israel no templo, no lugar da adoração, no
tabernáculo que se buscava ao Senhor,
na casa que se chama pelo seu nome, quando
as reais atitudes (v. 9) estavam mascaradas por uma falsa adoração.
Os
versículos 16 ao 20, estão exortações a Jeremias para não
importuná-lo (ao
Senhor) com suas orações, porque as atitudes do povo (pais, filhos
e mulheres, ou seja, famílias inteiras) estão mais voltadas a
adoração de outros deuses, como à Rainha do Céus, (referência à
deusa Istar, deusa babilônica da guerra e da fertilidade) do que ao
verdadeiro Deus.
Isso
tudo é um
pouco mais do pano de fundo onde a nossa história se desenvolve.
Não
fica difícil descobrir que a confiança dos homens (e das famílias)
daquela época estava apenas em rituais sem
sentido prático da verdadeira adoração ao Senhor,
no templo e fora dele, quando na verdade a verdadeira adoração
estava de fato longe de seus corações.
A
partir do versículo 21 Deus se expressa
de maneira mais enfática quanto a isso.
Sacríficios
ritualísticos desacompanhados de uma adoração interna verdadeira
não interessavam à Deus. Que eles fizessem com os sacrifícios
aquilo que quisessem! Até comê-los, se os oferecessem daquela
maneira. Não tinha importância para Deus!
Isso
era muito impactante para o povo, uma vez que o sistema de
sacrifícios revelado a Moisés no deserto ao saírem do Egito, ainda
estavam em vigor… é aqui que surge o problema… se estavam em
vigor, como Deus diz que nada falou a respeito desses holocaustos e
sacrifícios?
Segundo
Champlin (pag 3009) “Alguns dizem que Jeremias não eliminou o que
era sacrificial, ritual e cerimonial, mas percebeu que essas coisas
eram inteiramente inúteis; e, na nação
de Judá de seu tempo, eram realmente fúteis.”
Note!
Aqueles
sacrifícios eram inúteis! Ele continua:
“Naturalmente,
deveria ser uma obediência prestada de coração, e não um
mero zelo
em cumprir os deveres determinados por
Moisés.”
Uma
vez que os sacrifícios ritualísticos de animais prefiguravam um
Cristo morto pelos pecados, alguns estudiosos, apontam para um
Jeremias de fato focado, não no ato religioso em si, mas na mudança
que deveria ser mais interna do que exterior através desses rituais.
(vai saber…)
Trazer
a tona que esse pensamento de Jr 7.22 é literal, de
que ele (e o próprio Deus) descarta tais aspectos sacrificiais
significa dizer, em muitos aspectos, que
o sistema sacrificial do antigo testamento estaria equivocado, uma
vez que foi instituído por homens e não por Deus.
Dizer
que a retórica de Jeremias é literal,
seria também trazer a baila o equívoco
de que tais sacríficos também não podem prefigurar a morte do
Cristo em favor dos pecadores perdidos conforme
o Novo
Testamento,
uma vez que este mesmo admite as ordenanças divinas sobre
sacrifícios, mas os vê como uma fé primitiva que prefigurava a
substância da verdadeira espiritualidade em Cristo.
Para
chegarmos a uma concordância sem ferir o texto bíblico (e quem
sabe, salvar Jeremias de blasfêmia ou
heresia), podemos dizer que:
1.
Os sacrifícios não eram a “principal” questão em vista.
2.
Os “sacrifícios de seus dias” eram fúteis, e que ele não
estava atacando sacrifícios históricos.
3.
Os sacrifícios de animais só são aceitáveis quando acompanhados
por uma fé de todo o coração, vinculada à obediência moral à
lei mosaica.
A
terceira opção equivaleria dizer que Jeremias estava centrado em
uma compreensão cristã da lei de Moisés, o que é muito
plausível…. E “sinistro”…
A
compreensão do texto não é trivial… Porém...
Note
outros autores bíblicos
que tiveram
o mesmo pensamento e revelações,
também professaram ideias similares
orientados pelo mesmo Deus que Jeremias.
Note
as
expressões:
“Ouvi a Palavra do Senhor” em Is
1:10, Os 4: 1 e “Ouvi
,agora, o que diz o Senhor” em Mq 6.1, que
traz em si a veracidade das afirmações,
e para quem ela
é endereçada em
Is 1:10 em Os 6:
4 e em Mq
6: 3, perceba a semelhança com
a mensagem de Jeremias… é incrível!!)
“Ouvi
a palavra do Senhor, governadores de Sodoma; dai ouvidos à lei do
nosso Deus, ó povo de Gomorra.
De
que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor.
Estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais
cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros,
nem de bodes. Quando vindes para comparecerdes perante mim, quem
requereu de vós isto, que viésseis pisar os meus átrios? Não
continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação.
As luas novas, os sábados, e a convocação de assembléias... não
posso suportar a iniqüidade e o ajuntamento solene! As vossas luas
novas, e as vossas festas fixas, a minha alma as aborrece; já me são
pesadas; estou cansado de as sofrer.
Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue.” (Is 1: 10-15)
Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue.” (Is 1: 10-15)
“Pois
misericórdia quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Deus,
mais do que os holocaustos. Eles, porém, como Adão,
transgrediram o pacto; nisso eles se portaram aleivosamente contra
mim. Gileade é cidade de malfeitores, está manchada de
sangue. Como hordas de salteadores que espreitam alguém,
assim é a companhia dos sacerdotes que matam no caminho para Siquém;
sim, cometem a vilania. Vejo uma coisa horrenda na casa de
Israel; ali está a prostituição de Efraim; Israel está
contaminado. Também para ti, ó Judá, está determinada
uma ceifa” (Os 6: 6-11)
“Com
que me apresentarei diante do Senhor, e me prostrarei perante o Deus
excelso? Apresentar-me-ei diante dele com holocausto, com bezerros de
um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros,
ou de miríades de ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela
minha transgressão, o fruto das minhas entranhas pelo pecado da
minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que
é o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e
ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6:
6-8)
Pois
bem! Como conclusão…
Podemos
entender que a mensagem de Jeremias pode muito bem ter sido
endereçada a uma época e realidade em especial, assim como foi a
mensagem de outros profetas igualmente controversa. Jeremias (e os
outros) podiam não estar querendo
abolir a
lei em si ou o sistema sacrificial, mas estava a censurar a atitude
pecaminosa com que o povo e os sacerdotes conduziam a nação a uma
adoração idólatra e apóstata,
o que obviamente, desagradava ao Senhor (afinal todos eles falaram,
com palavras do
próprio Deus).
Por
outro lado…
Podemos
concluir, que de fato, Jeremias era um hebreu radical e devemos
tomar o texto como literal, como se o
profeta tivesse tido, de fato, uma
espécie de revelação maior (essa sim,
tipicamente cristológica) que todos aqueles sacrifícios mosaicos,
não prefiguravam uma adoração
verdadeira (e diante da apostasia, ainda menos). Talvez
a declaração de I Sam 15:22 de que
“obedecer é melhor do que o sacrificar” seja
a melhor relação na sua declaração.
Independente
de qualquer conclusão que escolhamos, seja a de que Jeremias estava
sendo pontual no seu tempo e situação em sua colocação do v. 22
ou que realmente ele estava sendo radical com relação ao sistema
sacrificial mosaico, por intermédio de uma revelação do próprio
Deus… lembremos….
O
importante no texto não é exatamente se Deus deu ou não ordenanças
sobre os holocaustos e sacrifícios, mas que a apostasia e a adoração
a outros deuses deve sempre ser combatida através da verdade
expressa na Palavra do Senhor!
Obrigado
Anderson!
Bons
estudos!
Fernando
e Isabella
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